Depois que temos nossos filhos, vez por outra nos pegamos pensando "naquele tempo em que eu estava grávida..."
E isso não acontece somente quando os filhos são pequenos. É uma lembrança que faz parte de um "top 10" pessoal. Aqui, não aprofundaremos os motivos fisiológicos e biológicos do fato, o quê, por si só, já explicaria muito desse impacto da gestação em nossa história pessoal - afinal, taxas elevadas de hormônios que não são tão evidentes fora de uma gestação, podem fazer muita diferença.O foco é no psicológico e na delicada teia de significados que o estado gestacional nos impõe. Geralmente, é o maior rito de passagem da condição de filha (para quem todos os olhares se voltam) para a de mãe - você irá olhar para um outro e não se ressentirá tanto de não ser mais o foco das atenções. Se casada estiver, você resignificará a sua relação conjugal com a chegada desse terceiro elemento. O casal deverá estar maduro e coeso para enfrentar essa "reforma" de posicionamento. Não há tanto espaço para o "narcisismo a dois" e o investimento afetivo nessa criança será grande. No entanto, o casal não poderá esvaziar emocionalmente a sua relação, pois ela pré-existe ao bebê. Por isso, tantas crises conjugais irrompem nesse período, uma vez que a qualidade do vínculo do casal que existia antes da gestação será o fator preponderante para a manutenção e crescimento da mesma com a chegada do filho.
É comum muitas mulheres chegarem à terapia e relatarem um sentimento de completude e "sintonia com o mundo", passados cerca de dois anos do nascimento dos seus filhos. Seria o tempo de elaborar internamente todas essas transformações e permitir a elas um florescimento em suas personalidades? Pode ser... minha observação é clínica, empírica. Mas uma coisa eu posso afirmar para vocês: o percurso da maternidade não cessa com o nascimento dos filhos. Ele imprime indelevelmente a sua marca no ser feminino. Isso não significa que tudo seja um mar de rosas, até porque as verdadeiras transformações se consolidam com um pouquinho de "perrengue". Mas, como diria Nietzsche, "- o que não me mata, me fortalece."
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