Implicações psicológicas das gestações de fetos com anomalias

Todo casal que deseja a gestação sonha em conceber um ser humano perfeito, pleno de saúde.  Por isso, uma das maiores fontes de ansiedade dos futuros pais é em relação ao desenvolvimento fetal. 

O avanço dos recursos ultrassonográficos das últimas décadas permitiu maior precisão nas situações de risco que envolvem o feto e a mãe.

Consagrada pelos médicos e estudiosos da medicina fetal, o exame de translucência nucal é considerado um marcador importante para o rastreamento de cromossopatias.  Da mesma forma, a ultrassonografia morfológica, geralmente realizada entre a semana 22 e 24 de gestação, mostra-se significante para a detecção de problemas congênitos nos órgãos e estruturas ósseas do feto.
Ainda que tenhamos acesso a todos esses avanços da medicina, e até por eles existirem, a experiência de ansiedade que cerca a investigação da saúde do bebê tem aumentado para os futuros pais.  Podemos dizer que essa ansiedade atinge o seu pico em dois momentos: no período de realização dos referidos exames e às vésperas do parto.
No caso de pais que recebem a notícia - ainda na época da realização dos exames ultrassonográficos importantes - de que algo não vai bem com a saúde do seu filho, podemos dizer que dois contextos psicológicos se desenham:
- o de tristeza, que trabalhada, caminha para um processo de aceitação e enfrentamento ou;
- o de negação da situação em um primeiro momento, raiva e depressão.
Notem que a divisão acima não se dá didaticamente como o descrito, sendo importante ter em mente que situações adversas em relação à saúde do feto sendo enfrentadas de formas diversas pelos pais (adaptativa ou desadaptativamente), levam também a implicações psicológicas distintas (aceitação ou depressão).
O que vemos na clínica psicológica com gestantes é a necessidade de acompanhamento na área de saúde mental para essa mãe e esse pai.  O trabalho é feito ora individualmente com a gestante, ora com o pai e, eventualmente, com os dois juntos, no formato de um tratamento psicoterápico que se inicia com a confirmação do diagnóstico e perdura por cerca de dois a três meses após o parto.

Há que se considerar também o prognóstico que acompanha o problema detectado, o que só pode ser confirmado, às vezes, com o nascimento da criança.

Pais e mães naturalmente se sentem implicados em relação a tudo aquilo que envolve seus filhos.  Em uma situação como essa, uma enxurrada de sentimentos, muitas vezes conflitantes, invadem o casal.  Isso é esperado e normal ocorrer.  No entanto, não pode haver desamparo em relação às necessidades psicológicas e afetivas desses pais.  Por isso, o apoio psicológico e a intervenção psicoterápica visando o fortalecimento dos recursos emocionais da cada um é fundamental.

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